Submissão de comunicações



O tempo decorrido sobre a guerra colonial, ou as guerras de libertação, e a consequente sedimentação da inevitabilidade das independências – que se vão tornando distantes – vão relativizando sentimentos e expurgando o carácter panfletário de muitas das opiniões e dos juízos emitidos, por vezes sem fundamento, acerca da situação e das possibilidades de atuação dos militares portugueses, nos territórios ainda colonizados, antes e após o 25 de Abril de 1974.

Entre ensaios, monografias e memórias, já muito se escreveu sobre a guerra colonial ou sobre as guerras de libertação, assim como sobre a descolonização. Decerto, muitas questões ainda podem e devem ser discutidas – parafraseando Valentim Alexandre, não podia haver descolonização exemplar porque tal teria como premissa uma colonização exemplar –, mas importa uma reflexão mais profunda e justa sobre a atuação dos militares ao longo dessas várias guerras. Os militares estavam obviamente condicionados nas suas noções de autoridade e de missão, bem como na sua operacionalidade, tanto pela conjuntura internacional quanto pela repercussão de novos paradigmas políticos, que alastravam entre oficiais, sargentos e praças. Atente-se, por exemplo, na intermitência dos combates, na diversidade dos terrenos, nas reações das populações, na multiplicidade de adversários e suas táticas e armamentos. Independentemente do sentimento do imperioso cumprimento de um dever, inevitavelmente emergiria a perceção de que a beligerância se arrastava para um fim sem sentido.

Como já sucedia antes, a cada dia decorrido sobre o 25 de Abril, tal pesaria sobremaneira na decantação do juízo do nulo sentido político de ações militares. De permeio com mudanças na cadeia de comando e na operacionalidade, militares de diferentes condições e responsabilidade moveram-se em várias (e, nalguns casos, inusitadas) direções, guiando-se por díspares motivações, decisões e estratégias, também na medida em que isso era política e militarmente possível. Se alguns ensaiaram como desígnio militar ganhar tempo até à definição política de Lisboa relativamente à independência das colónias, outros julgaram-se obrigados a agir quase disruptivamente para acelerar tal definição, forçando a mão dos decisores metropolitanos. Previsivelmente, as ações armadas coexistiram com encontros e acordos informais de tréguas com forças guerrilheiras dos movimentos.

Não obstante, os militares tiveram de lidar, nalguns casos, com o recrudescimento das ações armadas dos movimentos de libertação nos meses seguintes ao 25 de Abril. Com efeito, os militares portugueses foram sujeitos a ações armadas que, visando-os enquanto força do colonizador – com a justificação de circunstância de que se pretenderia democratizar em Portugal e prosseguir a colonização –, buscavam a conquista da melhor posição para garantir o acesso ao poder após a independência, em prejuízo de outros movimentos ou de meros concidadãos.

Se a guerra já se revelara um fardo pesado, após o 25 de Abril, a situação não foi menos desafiante: a atuação dos militares tornou-se variada, desde o desinteresse por ações armadas até à mobilização para conter tentativas restauracionistas ou para, sem sucesso, impor a paz, o que, por exemplo, não foi conseguido no turbilhão de Angola.

Sob pressão da eclosão e propagação de conflitos raciais e, depois, de violentíssimos confrontos, em que condições foi possível manter, ou não, uma coesão mínima? Como é que o comando e a capacidade operacional se mantiveram, ou se corroeram, no confronto entre o desejo de regressar “são e salvo” e a adesão aos projetos de construção nacional nos novos territórios, entre outras motivações?

Os militares desdobraram-se em atuações díspares: além de rendições inesperadas, ações ofensivas, negociações para o estabelecimento de acordos de cessar-fogo e de paz, atuação conjunta com forças dos movimentos, ou de uma das fações, suporte aos movimentos, sem esquecer ações de retaliação pela prisão de soldados portugueses.

Este Colóquio Internacional Das Guerras ao pós-25 de Abril: Os Militares em Territórios em Convulsão acolherá análises do papel das forças armadas portuguesas e de seus adversários desde os tempos dos conflitos ao período de transição para as independências (Guiné, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique e Timor).

Atenta a evolução nalguns territórios no sentido de uma acrescida internacionalização de seus diferentes conflitos, o Colóquio acolherá também contribuições que se proponham explorar a entrada em cena de novos atores militares (por exemplo, Cuba, África do Sul) e o tipo de interação mantido com militares portugueses.

Línguas de trabalho

  • Português, castelhano, francês e inglês

Eixos temáticos

  • Os cursos das guerras e a gestação de perceções políticas entre os militares
  • Atuações na governação dos territórios ultramarinos
  • Perceções políticas nas forças militares e coesão no terreno
  • Filiações político-ideológicas e atuação junto de civis
  • As especificidades dos processos de descolonização dos vários territórios
  • A condição das tropas lealistas
  • Elementos incorporados localmente: trajetórias do pré ao pós-25 de Abril
  • Interações entre militares portugueses e corpos militares estrangeiros

As propostas de comunicação, em DOCX, entre 180 a 200 palavras, deverão ser enviadas para o endereço guerra25abril@letras.ulisboa.pt até 15 de janeiro de 2025. As propostas devem ser acompanhadas de uma nota biográfica com 100 palavras.

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